domingo, 9 de maio de 2010

Vais Enjoar

- Vais enjoar. Vais vomitar.

- Não vou nada. Pára de me dizer essas coisas.

- Vais sim, nojenta. És nojenta. Tudo que fazes é nojento.

- Porquê de repente tudo isto?

-Porque estás a mastigar presunto com Cheerios.

- Já te vi a fazer coisas piores...

- Mentira! Nunca me viste a fazer nada assim horrível.

- Já te vi a beijar um urso.

- Mentes de novo!

- Foi ontem, perto do lago.

- Seguiste-me?

- Tirei uma foto. Ficou gira.

- Porque me odeias?

- E vou dizer a toda a gente que fornicas ursos.

- E se fornicar?

- Então és um fornica-ursos.

- Lá estás tu, sempre com rótulos.

- Cala-te ateu. Não acreditas em Deus, não prestas!

- Quero uma mulher sensual. Que me toque onde nem eu sei que me excita.

- 'Tás sonhador. Arranja mas é uma ursa sensual.

- Já procurei. Acredita que já.

- Eu sei. Tirei fotos.

- Pensei que tinha sido só uma.

- Menti. Eu menti.

- E mentes muito?

- Só no currículo. E quando falo contigo.

- Ah bom.

- Admite que me amas.

- Nunca.

- És estranho.

- Um bocado.

- Também.

- Cala-te.

- Um dia.

- Vamos dormir
.
- Ok.

- E se tiver insónias?

- Fácil. Sonhas com ursos.

domingo, 3 de janeiro de 2010

- Era assassiná-los a sangue frio. A quem? A nós. E esses apresentadores? E os dentes tortos? Não, digo não, mereço o não porque não sou mais. Morro e morrerei e não me importo. Não chego às notas. Não consigo respirar. Não sou plasticina e não consigo regenerar-me. Nem sei ter opiniões, nem sei falar. Sou um monstro. Sei que não consigo ser mais do que sou. Hoje não tenho doenças nem vontade de nada.

- Não és nada.

- Não. Sou menos que nada. Sou o invisível de zero.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Straight To You

- Hey, olha uma coisa, és homossexual?

- Er, não!

- Nem eu!

- Fixe. Então e agora?

- Agora é melhor arranjar coisas não-gay para fazer, que achas?

- Como o quê?

- Hum... Futebol! Futebol é bem másculo não é?

- Ya, ya!

- Hum, mas quer dizer, eles apalpam-se e isso...

- Tens razão...

- Já sei! Ver TV! Isso é típico de homem, certo?

- Acho que sim! Às vezes até com uma cerveja na mãozita!

- Exacto!

(...)

- Hum, está a dar "The L Word"...

- Ui, isso são lésbicas...

- Mas os homens curtem ver gajas com gajas não é? Sabes como se diz, é o dobro das prateleiras!

- Seu malandro! Suponho que tenhas razão...

(...)

- Epá, muda! Tanta mulher tá a fazer-me impressão...

- Certo, certo, certo!

- Quero dizer, tanta gaja faz-me crescer o pau!

- Sim, sim, é isso! Pau grande!

- Pá! É complicado estar sentado aqui e encontrar coisas não-gays para fazer!

- É mesmo, gajo! Mas olha, e que tal ouvir música? A música não tem orientação sexual!

- Pode ser! Tenho aqui Elton John, Pet Shop Boys, Morrissey...

- Raios! Só tens música de paneleiros!

- Sim! O Elton John é definitivamente gay! Gosta de homens!

- Que nojo, gostar de homens. Não achas?

- Ya, que nojo mesmo.

- Sabes que mais? É nojento.

- Completamente nojento.

- Bem, não completamente. Mas bastante!

- Concordo! Muito nojento. Não totalmente mas bué.

- Olha, eu nunca faria sexo com homem.

- Nem eu.

- A não ser que fosse mesmo muito bom.

- Ya. Ou então se tivesse um bom sentido de humor.

- Sim, isso é muito importante...

- Boas massagens também contam muito.

- Mas acima de tudo, mulheres!

- Claro, mulheres! Vaginas e isso!

- Não há nada como comer a rata de uma dessas vadias!

- Ah pois deve ser uma loucura, deve!

- Deve?

- É o raio de uma loucura! Miam!

- É que as mulheres além de me atraírem fisicamente também me atraem psicologicamente!

-Curioso! É como a mim! Não gosto de outra coisa. Só quero mulheres!

- Tão fofas que são!

- E cheiram bem!

- São atenciosas!

- Sensíveis!

- Têm uma noção de moda espectacular!

- E são bonitas!

- Às vezes andam com calças apertadas em que até se vê o tamanho do...

- Ai e aqueles corpos suados... Cheios de músculos... Frequento muito ginásios, sabes? É só gajas!

- Pois, imagino!

- Mas é complicado encontrar a, hum, mulher certa...

- Pois, o amor não cresce nas casas de banho, já dizia o filósofo...

- Que o diga o George Michael! Ah ah ah!

- Ai maluca! És uma doida!

- Desculpa?

- Um machão, quero dizer! Um doido por pito fresquinho!

- Isso mesmo! Sou um garanhão disponível para a satisfação da mulher!

- Olha, então já somos dois!

- Dois quê?

- Hum... dois heterossexuais do caralhão!

- Isso mesmo! Dá cá mais cinco!

(PAF)

- Ui, que força! Andas a exercitar-te?

- Já te disse, frequento ginásios...

- Ah, eu é mais balneários...

- Uma cena, sabes fazer massagens?

- Claro que sei! Já diz o povo, maçã maçã massagens!

- Ah ah ah! És tão engraçado.

- E tu és bom. Tá dito, pronto...

- Desculpa?

- Acho-te mesmo muito bom. E sabes que mais? Tou farto de estar aqui a fazer coisas não gay...

- Também acho...que tal fazer outra coisa?

- Sim, só para quebrar as regras vamos fazer algo assim um pouquinho gay...que achas?

- Vamos lá então!

- Sim, e depois é só ver as gajas todas malucas...

- Ya! Vamos ser bad boys!

- É como o ditado diz: É dos panascas que elas gostam mais!

- Exacto! Depois disto, que a mulherada se prepare!

- Sim! Cona é que é!

- Cona Forever!

- Ai....sabes uma coisa?

- Diz.

- Adoro mulheres.

- Percebo-te bem. Eu sou igual.

A Problemática Do Romance Parte I

- Meu, eu amo-a...

- Fixe, já a papaste?

- Não se trata disso. Eu gosto mesmo dela! Temos os mesmos gostos, pensamos da mesma maneira...

- Que é que isso interessa se ainda não a papaste?

- Olha, comer uma gaja não é tudo.

- Pois não. Mas exercita bem o pequenote. Só nunca papei uma africana. De resto, já foi tudo.

- Hum, tás-me a dizer que comeste gajas de todo o lado?

- É precisamente isso que te estou a dizer. É assim tão complicado de acreditar?

- Então por exemplo, já comeste uma gaja da Eslovénia?

- Ya. A Ljubinka.

- Ljubinka?

- Bem boa a Ljubinka.

- Hum, França.

- Christine.

- Itália.

- Francesca.

- Polónia.

- Manuela.

- Manuela?

- Sim, os pais eram portugueses.

- Então és mesmo o King.

- Não me posso queixar. O mundo tem sido bom para mim.

- Oh, mas assim não podes apreciar o romantismo inerente à nossa realidade.

- Quero lá saber do romantismo. Só quatro letras me interessam. F-O-D-A. Tenho tempo para o amor aos 35 anos.

- És detestável.

- Admiras-me e odeias-me, não é?

- Ya. E aposto que tens sífilis.

- Por acaso... Já a tive.

- A sério?

- Sim, era uma gaja da Roménia. Que mamas! É como eu digo, a vantagem da europa é ter gajas.

- Gajas... Melhor é mulheres de quem se goste a sério.

- Que menino, pá! Para ti o amor é uma benção, para mim é uma doença. Que queres que te diga?

- Vi logo. De certeza que nunca te apaixonaste...

- Sabes lá o que dizes. Precisamente por ter amado é que fiquei assim. Gostava imenso de uma gaja, de uma rapariga quero dizer, mas ela não sentia o mesmo.

- Conta lá o que aconteceu.

- Epá... não quero falar disso...

- Faz bem falar, desabafar. Só assim entras em contacto contigo mesmo e te descobres. É saudável saber a causa das nossas motivações...

- Pronto, tipo, uma vez mandei-lhe uma carta.... e ela...ela...

- Sim?

- Ela não respondeu, ok? Ficou quieta, não fez nada.

- Então?! E não insististe?

- Não, meu. Ela é famosa. De certeza que não ia querer nada comigo...

- Mas repara, tu papaste a Ljubinka e a Sífilis e as outras, tu és grande, não te apercebes?

- Oh, mas a pessoa de quem eu gosto está muito acima dessas putas. Ela sim, tem classe! Digo-te, ela é mais que uma Deusa. É a Rainha das Deusas.

- Com a breca! Essa gaja marcou-te mesmo muito!

- Essa quê, cabrão?

- Essa Deusa, quero dizer! Devias arranjar forma de entrar em contacto com ela... olha, se calhar até comes tantas gajas precisamente para preencher esse vazio emocional, para substituir a paixão verdadeira que nunca pudeste sentir livremente... é como se o amor existisse...e tu fosses um mero espectador...

- Sei lá disso... só sei que é muito complicado entrar em contacto com ela. Ela é uma artista, faz as músicas mais belas que existem,..Estive em concertos dela e juro... a atmosfera que se cria é absolutamente mágica...

- Meu, fala com ela no fim de um concerto... declara-te!

- Parece fácil, não parece? Mas a minha coragem desaparece quando estou com alguém que realmente gosto. Perco as palavras, perco o rumo, perco-me a mim mesmo... e sem a minha personalidade não sou nada. É como aquele gajo diz,: "Sem a minha vida, morro!"

- Que engraçado! O come-gajas fica nervoso quando tá apaixonado!

- Não gozes.

- Não te preocupes, eu percebo. Quando tás com alguém assim gera-se logo mais respeito, preocupaste mais com o que a pessoa está a pensar. E a pressão dá cabo de ti.

- Exacto. Tenho é de pensar numa maneira de dar a volta a isto.

- Eu vou pensando, e depois na segunda parte do diálogo, vou ver se te consigo ajudar, ok? Só uma cena, quem é a gaja afinal? Eu conheço-a?

- Oh, não a quero mencionar.

- Pá, faz o que quiseres, mas dá uma pista pelo menos.

- Uma pista? Como assim?

- Pá, informação não demasiado óbvia sobre ela de forma a que eu adivinhe a sua identidade através de tentativas...

- Ah, já tou a ver, como a morada dela?

- Não, meu.

- E que tal uma foto?

- Não pode ser algo tão explícito...

- Ok, então cá vai. Tipo, o seu último nome é: Malhoa.

Uma Questão de Moral

- Meu, curto tanto a Winona Ryder que até curtia comer uma gaja parecida a ela.

- Ya, tem sentido, mas tipo, não seria bem a mesma coisa.

- Para mim era como se fosse.

- Tá bem, mas e como encontramos uma gaja parecida a ela? De certeza que não existem por aí clones dela espalhados pelos bares mais fashion do país...

- Mas deviam haver, sabes?

- Só dizes coisas estúpidas. Porque não pensas em coisas mais úteis?

- Como quê?

- Sobre o que se passa no mundo! A crise, o ambiente, o Obama! Essas coisas!

(...)

- Também não queres saber nada disso, pois não?

- Népia.

- Vai. Shakira ou a gaja boa do LOST?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Metal

- Olha-me pa esta velha! Psst, ó velha, curtes Emperor?

- Não.

- Ah ah, vi logo. Vestes-te de preto mas de trve não tens nada! Estas velhas só andam aqui pa chatear um gajo. Sabem lá o que é música! 'Tás a olhar-me de lado, velha, 'tás? Tens problemas com o meu aspecto, é? Não te preocupes que não te faço mal. Pfff, sabes lá o que é cortar-se enquanto se ouve The Loss and Curse of Reverence, rai's te partam...

- Mas que parvoíce! Para começar, jovem, não vejo relação absolutamente nenhuma entre cortar-se e ouvir música. E mais, os Emperor com aquelas palhaçadas progressivas e sinfónicas só ficaram a perder.

- Oh, mas o In The Nightside Eclipse é grande álbum...

- Para maricas como tu, talvez.

- Estás a dizer-me que...

- Sim. Só tolero o Wrath of the Tyrant.

- Uau velha, desculpa lá! Afinal és muito mais trve do que eu pensava! Só uma cena, daqui até ao Pingo Doce, fica a quanto tempo?

- 6 minutos e meio. Se fores pela avenida, claro.

- Exacto. Obrigadão, velha.

- De nada. Mas olha, se fores pela ponte, também não deves demorar muito.

- Ya, ya. Também pensei nisso, mas acho que vou pela avenida, sempre é um pouco mais perto.

-É. Chegas lá mais depressa.

- Exacto. Obrigadão velha.

- De nada. Se bem que hoje em dia, o Mini-Preço tem melhores, enfim, preços... A manga, por exemplo.

- A manga?

- Sim, A manga está 7 cêntimos mais barata no Mini-preço do que no Pingo Doce. E 11 cêntimos mais barata relativamente ao Jumbo. Muito boa para saladas.

...

Só no iogurte é que o Pingo Doce está à frente. E mesmo assim, eu não confiava muito. Produtos lácteos em promoção foi sempre algo que me causou impressáo...

- Tenho de ir.

- Vai lá então. Mas lembra-te, camarão fresco só há mesmo no Jumbo. E tens de ter muito cuidado com a roupa que lá vendem que vem quaise sempre com defeito...

- Sim. Tenho mesmo de ir.

- Por acaso tenho de fazer arroz de marisco um dia destes. Já aos anos que não como um bom arroz de marisco! Nos restaurantes sabe sempre muito estrambólico, o camarão sabe a borracha, entendes? Não há nada como arroz de marisco caseiro!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Rapunzell

- Meu Deus? Será possível? Uma princesa no cimo desta torre? Finalmente as minhas preces foram atendidas, finalmente uma mulher... uma mulher para mim!

- E nem pedes a minha opinião?

- Princesa?! Conseguias ouvir-me aí de cima?

- Tipo, ya. E não sou nenhuma princesa, tá?

- Para mim és uma princesa! Só podes ser!

- Mas não sou. Sou uma rapariga normal. Nunca viste uma rapariga normal presa numa torre?

- Não, princesa. Na verdade nunca vi muitas raparigas, mas posso dizer-te: és bela!

- Isso foi para mim?

- Claro que sim!

- Não me dizes nada de novo, já sabia disso.

- Desculpa! O que seria algo de novo para ti?

- Se alguém me levasse a jantar...

- E posso ser eu a levar-te, princesa?

- Bem, se não há mesmo mais ninguém...

- Não te vais arrepender. As minhas capacidades sociais estão muito bem desenvolvidas. Tenho a certeza que nos vamos divertir.

- Pois, mas há um ligeiro problema. A cena é que, não sei se reparaste, mas estou presa nesta torre...

- Que crueldade! Quem te fez isto, princesa?

- Isso não interessa! Anda mas é aqui buscar-me.

- E como posso eu fazer isso?

- Tipo, escala a torre, duh?

- Certo princesa! Sendo assim, escalarei a torre! Por ti, vou escalá-la! Logo à tardinha voltarei para te salvar meu anjo! Lanço-te todo o meu carinho!

- Ya, ya, jokax fofax.

*

- Voltei! Estou aqui! Prontinho para te ver de perto!

- Sobe lá isso, gajo.

(tump tump tump tump tump tump tump tump tump)

- Oh! És ainda mais bonita do que parecias ao longe! Escreverei poemas sobre a tua pele! Nunca vi olhos tão límpidos! Tu és sinceramente, a perfeição.

- Ah, ya, que fixe. Já tinha reparado, por acaso.

- E o teu cabelo! Lindo, longo, forte! Daria até para me elevar desde o bosque até aqui!

- Claro, claro, deixa estar que é mesmo isso...

- É espectacular o teu quarto. Se não és uma princesa, certamente te sentirás como uma nestes aposentos.

- Tem dias...

- É tudo tão cor-de-rosa! E pelos posters dá para ver que aprecias heavy metal.

- Não ligues a isso, não fui eu quem colocou essas coisas na parede. É melhor irmos embora. Devem estar quase a chegar os sons...

- Tudo como quiseres!

(tump tump tump tump tump tump tump tump tump tump)

- Finalmente a floresta! Há já algum tempinho que não vinha aqui!

- Ainda bem que estás feliz. Se estiveres feliz, eu estarei feliz.

- Ya, e quanto ao jantar, bora?

- Absolutamente sim! Vamos ao restaurante mais elegante que conheço!

- Ok ok.

(...)

- Já te disse que és muito bonita?

- Foda-se, parece que não sabes falar de outra coisa! Já te disse que sei que sou bonita, que queres mais?

- Algum tipo de agradecimento seria educado. Afinal, desci-te daquela torre...

- E já não vou jantar contigo? Não é esse o melhor agradecimento que te posso dar? O luxo da minha companhia é pouco? É pouco para ti?

- Desculpa princesa. Claro que não é pouco. Jantar contigo será uma honra suprema. Desculpa-me.

- Que não se repita.

- O restaurante já é aqui pertinho.

(...)

- É este. "Os 3 Porquinhos". Gosto muito de jantar aqui, especialmente a especialidade da casa: Porco na brasa.

- Deve estar a gozar comigo... tipo, sou vegetariana, não reparaste?

- Desculpa, não sabia! Não reparei nisso!

- Mas devias ter reparado! És tão insensível!

- Então vamos procurar um restaurante ao teu gosto e...

- Deixa estar. Eu peço uma omelete.

- Tens a certeza?

- Tenho, anda lá. Vamos jantar. Diverte-me.

(...)

- Miam. Este porco na brasa está mesmo muito bom. Queres um pouquinho?

- Oh estúpido, cala-te! Eu abomino carne!

- Pois é... és vegetariana. Comes vegetais e essas coisas.

- Ya, "e essas coisas".

- Como está a tua omelete?

- Sinceramente, sabe a carne. Não como mais desta merda. Também não vale a pena. A comida só serve para engordar.

- Mas princesa! Tu estás magríssima!

- Como uma baleia.

- Não, como um esqueleto mesmo!

- Isso para ti é um elogio, cabrão? Não sei o que me impede de ir embora daqui...

- Princesa... eu... eu amo-te.

- És um bocado precoce, não? Diz-me, também és assim na cama?

- Isso é privado. Por favor, senta-te, não te vás embora. Quero pedir-te uma coisa.

- Diz lá.

- Conta-me a tua história. Porque estavas presa naquela torre?

- Ok, isso é algo que te posso conceder. Atingiste-me no ponto fraco. Não há nenhuma miúda que não queira falar sobre si. Bem, sei lá, hum. Vivo lá há 3 anos. Queres ouvir a versão crua dos acontecimentos ou queres a versão mais soft?

- Se crua. Crua e honesta. Peço-te isso.

- Pareces um apóstolo, sempre a pedir. Bem, então o que aconteceu foi isto:

Vivia perfeitamente num apartamento de luxo na baixa. Costumava dizer que vivia na alta, cenas de pita, percebes?

- Percebo.

- Tudo me corria bem, a escola, o ténis, o ballet... sentia-me realizada. Apenas as fortes saudades da minha mãe me faziam despertar do meu estado de euforia constante.

- Onde estava a tua mãe?

- Abandonou-me quando eu tinha 10 anos. E deixou o meu pai sozinho a tomar conta de mim.

- Continua.

- Então um dia... talvez atrofiada com sentimentos confusos ou sei lá, acabei por me envolver com a minha madrasta.

- Desculpa, espero não me estar a intrometer muito, mas... gostas de mulheres?

- Ya, sou lésbica, não tinhas reparado?

- Princesa, não acho que isso seja algo que se repare assim muito facilmente...

- É sim. Quando não se é um totó, é claro. Mas como estava a dizer, não foi algo de todo planeado. Simplesmente aconteceu. Cheguei a casa à meia noite e 35, lembro-me bem. Lá estava ela, incrivelmente sensual, deitada no sofá. Aconcheguei-me junto a ela, como costumávamos fazer, e de repente, os nossos lábios tocaram-se. Foi mágico. O momento mais bonito da minha existência.

- Então és mesmo lésbica?

- Completamente. Os homens não me atraem. Nem intelectualmente.

- E como foste parar à torre, afinal?

- Numa dessas sessões de amor completo, fui apanhada pelo meu pai. O olhar dele era de pura desilusão. Naquele momento. perdeu a sua mulher e a sua criação. Fechou-me na torre, cor-de-rosa, é certo, mas onde todas as noites, ao longo do eco, reproduzia heavy metal para me torturar.

- Não gostas, é?

- Pior, faz-me lembrar a minha madrasta. Ela adorava metal, sabes? E aquele som, era a lembrança absoluta e dolorosa que não a podia ter mais. Ela era tudo para mim. Fazíamos amor ao som de Anathema. Compreendíamo-nos, estudávamo-nos, com toda a delicadeza que a paixão proibida mãe-filha permitia, com toda a sensualidade verdadeira de verdadeiras amantes. Acho que não percebes o quanto ela é importante para mim.

- Ainda a amas?

- Para sempre.