- Meu Deus? Será possível? Uma princesa no cimo desta torre? Finalmente as minhas preces foram atendidas, finalmente uma mulher... uma mulher para mim!
- E nem pedes a minha opinião?
- Princesa?! Conseguias ouvir-me aí de cima?
- Tipo, ya. E não sou nenhuma princesa, tá?
- Para mim és uma princesa! Só podes ser!
- Mas não sou. Sou uma rapariga normal. Nunca viste uma rapariga normal presa numa torre?
- Não, princesa. Na verdade nunca vi muitas raparigas, mas posso dizer-te: és bela!
- Isso foi para mim?
- Claro que sim!
- Não me dizes nada de novo, já sabia disso.
- Desculpa! O que seria algo de novo para ti?
- Se alguém me levasse a jantar...
- E posso ser eu a levar-te, princesa?
- Bem, se não há mesmo mais ninguém...
- Não te vais arrepender. As minhas capacidades sociais estão muito bem desenvolvidas. Tenho a certeza que nos vamos divertir.
- Pois, mas há um ligeiro problema. A cena é que, não sei se reparaste, mas estou presa nesta torre...
- Que crueldade! Quem te fez isto, princesa?
- Isso não interessa! Anda mas é aqui buscar-me.
- E como posso eu fazer isso?
- Tipo, escala a torre, duh?
- Certo princesa! Sendo assim, escalarei a torre! Por ti, vou escalá-la! Logo à tardinha voltarei para te salvar meu anjo! Lanço-te todo o meu carinho!
- Ya, ya, jokax fofax.
*
- Voltei! Estou aqui! Prontinho para te ver de perto!
- Sobe lá isso, gajo.
(tump tump tump tump tump tump tump tump tump)
- Oh! És ainda mais bonita do que parecias ao longe! Escreverei poemas sobre a tua pele! Nunca vi olhos tão límpidos! Tu és sinceramente, a perfeição.
- Ah, ya, que fixe. Já tinha reparado, por acaso.
- E o teu cabelo! Lindo, longo, forte! Daria até para me elevar desde o bosque até aqui!
- Claro, claro, deixa estar que é mesmo isso...
- É espectacular o teu quarto. Se não és uma princesa, certamente te sentirás como uma nestes aposentos.
- Tem dias...
- É tudo tão cor-de-rosa! E pelos posters dá para ver que aprecias heavy metal.
- Não ligues a isso, não fui eu quem colocou essas coisas na parede. É melhor irmos embora. Devem estar quase a chegar os sons...
- Tudo como quiseres!
(tump tump tump tump tump tump tump tump tump tump)
- Finalmente a floresta! Há já algum tempinho que não vinha aqui!
- Ainda bem que estás feliz. Se estiveres feliz, eu estarei feliz.
- Ya, e quanto ao jantar, bora?
- Absolutamente sim! Vamos ao restaurante mais elegante que conheço!
- Ok ok.
(...)
- Já te disse que és muito bonita?
- Foda-se, parece que não sabes falar de outra coisa! Já te disse que sei que sou bonita, que queres mais?
- Algum tipo de agradecimento seria educado. Afinal, desci-te daquela torre...
- E já não vou jantar contigo? Não é esse o melhor agradecimento que te posso dar? O luxo da minha companhia é pouco? É pouco para ti?
- Desculpa princesa. Claro que não é pouco. Jantar contigo será uma honra suprema. Desculpa-me.
- Que não se repita.
- O restaurante já é aqui pertinho.
(...)
- É este. "Os 3 Porquinhos". Gosto muito de jantar aqui, especialmente a especialidade da casa: Porco na brasa.
- Deve estar a gozar comigo... tipo, sou vegetariana, não reparaste?
- Desculpa, não sabia! Não reparei nisso!
- Mas devias ter reparado! És tão insensível!
- Então vamos procurar um restaurante ao teu gosto e...
- Deixa estar. Eu peço uma omelete.
- Tens a certeza?
- Tenho, anda lá. Vamos jantar. Diverte-me.
(...)
- Miam. Este porco na brasa está mesmo muito bom. Queres um pouquinho?
- Oh estúpido, cala-te! Eu abomino carne!
- Pois é... és vegetariana. Comes vegetais e essas coisas.
- Ya, "e essas coisas".
- Como está a tua omelete?
- Sinceramente, sabe a carne. Não como mais desta merda. Também não vale a pena. A comida só serve para engordar.
- Mas princesa! Tu estás magríssima!
- Como uma baleia.
- Não, como um esqueleto mesmo!
- Isso para ti é um elogio, cabrão? Não sei o que me impede de ir embora daqui...
- Princesa... eu... eu amo-te.
- És um bocado precoce, não? Diz-me, também és assim na cama?
- Isso é privado. Por favor, senta-te, não te vás embora. Quero pedir-te uma coisa.
- Diz lá.
- Conta-me a tua história. Porque estavas presa naquela torre?
- Ok, isso é algo que te posso conceder. Atingiste-me no ponto fraco. Não há nenhuma miúda que não queira falar sobre si. Bem, sei lá, hum. Vivo lá há 3 anos. Queres ouvir a versão crua dos acontecimentos ou queres a versão mais soft?
- Se crua. Crua e honesta. Peço-te isso.
- Pareces um apóstolo, sempre a pedir. Bem, então o que aconteceu foi isto:
Vivia perfeitamente num apartamento de luxo na baixa. Costumava dizer que vivia na alta, cenas de pita, percebes?
- Percebo.
- Tudo me corria bem, a escola, o ténis, o ballet... sentia-me realizada. Apenas as fortes saudades da minha mãe me faziam despertar do meu estado de euforia constante.
- Onde estava a tua mãe?
- Abandonou-me quando eu tinha 10 anos. E deixou o meu pai sozinho a tomar conta de mim.
- Continua.
- Então um dia... talvez atrofiada com sentimentos confusos ou sei lá, acabei por me envolver com a minha madrasta.
- Desculpa, espero não me estar a intrometer muito, mas... gostas de mulheres?
- Ya, sou lésbica, não tinhas reparado?
- Princesa, não acho que isso seja algo que se repare assim muito facilmente...
- É sim. Quando não se é um totó, é claro. Mas como estava a dizer, não foi algo de todo planeado. Simplesmente aconteceu. Cheguei a casa à meia noite e 35, lembro-me bem. Lá estava ela, incrivelmente sensual, deitada no sofá. Aconcheguei-me junto a ela, como costumávamos fazer, e de repente, os nossos lábios tocaram-se. Foi mágico. O momento mais bonito da minha existência.
- Então és mesmo lésbica?
- Completamente. Os homens não me atraem. Nem intelectualmente.
- E como foste parar à torre, afinal?
- Numa dessas sessões de amor completo, fui apanhada pelo meu pai. O olhar dele era de pura desilusão. Naquele momento. perdeu a sua mulher e a sua criação. Fechou-me na torre, cor-de-rosa, é certo, mas onde todas as noites, ao longo do eco, reproduzia heavy metal para me torturar.
- Não gostas, é?
- Pior, faz-me lembrar a minha madrasta. Ela adorava metal, sabes? E aquele som, era a lembrança absoluta e dolorosa que não a podia ter mais. Ela era tudo para mim. Fazíamos amor ao som de Anathema. Compreendíamo-nos, estudávamo-nos, com toda a delicadeza que a paixão proibida mãe-filha permitia, com toda a sensualidade verdadeira de verdadeiras amantes. Acho que não percebes o quanto ela é importante para mim.
- Ainda a amas?
- Para sempre.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
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1 comentário:
Gostei :)
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